Site pretende ter, em dois anos, mais de 10 milhões de obras disponíveis a todos de forma gratuita
Jamil Chade, de O Estado de S. Paulo
Veja também:
Biblioteca virtual européia europeana.eu
Mas o projeto chamou tanta atenção que, em seu primeiro dia, o número de visitantes passou de 10 milhões e o site entrou em colapso. A UE teve de fechar o site por algumas horas diante da procura.
O projeto, acima de tudo, é uma iniciativa desesperada da França de impedir que apenas obras na língua inglesa sejam promovidos por todo o mundo. Dos 2 milhões de livros e obras já no site, metade são franceses. Paris quer usar a Internet para tentar reconquistar o espaço perdido pela língua francesa nos últimos anos.
O projeto do Velho Continente ganhou o nome de Europeana e o site europeana.eu espera reunir todo o patrimônio cultural da região. Com o instrumento que custará milhões, a Europa e principalmente a França concretizam um velho sonho de criar seu próprio site de referência e de colocar em um só lugar não apenas livros e textos, mas manuscritos, fotos, mapas, pinturas e até músicas.
A predominância da França no projeto de 400 milhões de euros é tão grande que até mesmo os vídeos sobre a queda do Muro de Berlim são em francês. Vários livros sobre a história de alguns dos 27 países do bloco também estão em francês. Apenas 1% do conteúdo do site está em alemão, contra 1,4% em espanhol e 10% sobre o Reino Unido.
A primeira etapa do projeto inclui a versão eletrônica de obras de Mozart, o manuscrito da Carta Magna, da Inglaterra, ou a primeira versão da Divina Comédia de Dante.
Segundo a comissária de Tecnologia da UE, Viviane Reding, o novo projeto permitirá que “um estudante tenha acesso a toda a biblioteca do Reino Unido sem sair de seu país ou de um admirador de artes na Irlanda olhar detalhes da Joconda sem pegar as filas do museu o Louvre, em Paris”.Sua esperança é de que o site dê visibilidade a “todos os tesouros hoje no fundo de museus” em toda a Europa.
Para Bruxelas, o projeto vai bem além de um instrumento de pesquisa. A UE teme estar perdendo espaço nas ciências e nas artes para americanos, indianos e chineses. No setor econômico, vê com preocupação o domínio dos arquivos mundiais em uma empresa privada com sede nos Estados Unidos e que hoje está se transformando na principal referência de pesquisas em todo o mundo, a Google.
Numa primeira fase, além dos 400 milhões de euros para a criação da biblioteca virtual, o site europeana.eu consumirá 2,5 milhões de euros ainda por ano para ser mantido. Todos os documentos terão acesso livre e não será cobrado ao usuário o acesso a qualquer uma das obras.
Até 2010, o objetivo da UE é de digitalizar 10 milhões de obras. A Google estima que tem hoje cerca de 7 milhões de livros digitalizados. Mesmo assim, o número ainda é pequeno, em comparação aos 2,5 bilhões de livros espalhados por todas as bibliotecas da Europa hoje. Após 2010, a próxima meta dos europeus é de digitalizar 4% das obras existentes no mundo por meio do site.
Essa não é a primeira vez que os europeus tentam criar a biblioteca virtual. 790 mil obras já haviam sido digitalizadas em 2006. Mas, sem recursos e contanto com uma tecnologia ultrapassada, o projeto fracassou. A França, que teme ver sua língua se perder diante da dominação da Google em todos os continentes, não economiza recursos e alerta que nem a crise financeira cortará dinheiro do projeto.