'Pai' da web defende o uso livre de informações

VALOR, 21.01.09, p. B-3 – Empresa

Gustavo Brigatto, de São Paulo

O futuro da internet será definido pelo público jovem, com a criação de dezenas de inovações das quais ainda não há sequer indícios, diz o programador inglês Tim Berners-Lee – considerado o pai de alguns dos padrões que permitiram a expansão da rede mundial, como o HTTP e a linguagem de programação de páginas HTML. “A web é uma imensa plataforma, uma tela em branco pronta para receber criações com as quais eu nunca sonhei”, disse Lee, ontem, em São Paulo, na abertura da Campus Party. Seis mil pessoas inscreveram-se para participar das atividades do evento de tecnologia, que terá sete dias de duração. Ao todo, a previsão é de que a Campus Party receberá 300 mil visitantes.

Uma das pessoas mais aguardadas, Lee foi recebido como uma estrela de cinema, com intensas salvas de palmas no início e no fim de sua apresentação sobre a evolução da web. Ele correspondeu às expectativas do público, falando sobre sua visão de uma rede aberta, baseada em padrões não-proprietários. Segundo essa concepção, os dados pessoais que circulam na rede não pertencem a nenhuma empresa ou serviço. Podem, portanto, ser usados livremente, respeitando-se os limites definidos pelo próprio usuário.

Para Lee, chega de criar centenas de cadastros nas diferentes redes sociais ou em sites da internet. O caminho para a web, segundo o programador, é unificar essas formas de acesso. É isso o que permitiria reunir de maneira mais fácil as bases de dados disponíveis na rede, facilitando ao usuário o trabalho de criar novos conteúdos com base nas informações já existentes. “As empresas não precisarão mais criar peças de publicidade porque as pessoas farão isso com os dados que têm disponíveis na internet”, projetou ele.

Um outro exemplo desse novo ambiente, batizado de Web 3.0 ou Web Semântica, seria um determinado órgão de governo oferecer indicadores sociais ou resultados de suas atividades sem muita preocupação com a apresentação dos resultados. Os próprios cidadãos poderiam montar uma leitura desses dados da maneira que quisessem, de forma ágil e livre.

Lee elogiou a proposta do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, de oferecer ao público um volume maior de informações relativas ao governo. “Existe uma onda muito forte de ‘linked data’ [livre associação de dados diferentes pelo usuário], e o governo Obama chega na hora certa para surfar nessa onda.”

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