Nilbberth Silva / Agência USP
O mercado do livro no País enfrenta dificuldades crônicas próprias da área e excesso de competição. As editoras de sucesso são aquelas que têm vantagens, como a vinculação a empresas maiores, multinacionais estrangeiras, organizações religiosas ou sistemas de ensino. Os leitores aprendem a ler por imposição e, para muitos, a leitura é um hábito difícil e não prazeroso. Essas são algumas conclusões de uma tese de doutorado defendida em novembro de 2008 na Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP pelo editor José Rosa.
Com cerca de 20 mil funcionários e movimentando apenas R$ 3 bilhões, a indústria editorial tem uma importância econômica pequena no Brasil.
Fabricantes de livros têm problemas com falta de tempo das pessoas para a leitura, dificuldade de achar o livro “certo” em meio à grande oferta, escassez de bibliotecas e altos preços dos livros. Além disso, segundo o Instituto Brasileiro de Alfabetização Funcional (INAF) apenas 26% dos brasileiros de 15 a 64 anos mostraram capacidade de ler, entender e resumir textos longos e encontrar informações neles — alfabetização plena.
Além disso, um pequeno número de editoras domina uma parcela grande do mercado. “O Brasil tem, aproximadamente, 600 editoras. Dessas, 30 provavelmente detém 70% do faturamento da indústria do livro”, explica Rosa.
Editoras de sucesso geralmente estão vinculadas a grupos de mídia, a editoras globalizadas, redes comerciais, sistemas de ensino, ou a outras empresas, universidades e grupos religiosos. As editoras mais expostas à dificuldades do mercado são as pequenas nacionais e independentes. Essas têm menos poder de negociação, mas, como têm custos menores, acomodam-se melhor às mudanças do mercado editorial e a insucessos de seus lançamentos.
Editoras menores sobrevivem vendendo poucos livros, em geral e especializados em algum segmento. “O custo de montar uma editora é baixo, por isso é facil entrar no mercado. Mas é difícil vender livros e permanecer”, conta o pesquisador. Mesmo assim, no Brasil a quantidade de títulos aumenta — são lançados por volta de 1500 por mês. “Esses títulos têm menores tiragens. As livrarias não dão vazão a tudo”, explica Rosa.
Para escrever a tese, Rosa partiu de sua experiência profissional de 20 anos, analisou dados estatísticos e pequisas internacionais, entrevistou donos de livrarias e administradores bem sucedidos de editoras. Por fim, conversou com dez pessoas que lêem mais de 20 livros por ano e 12 que não tinham o hábito de ler, mesmo tendo condições para isso. A tese foi orientada pelo professor Mitsuru Yanaze.
Comportamento dos leitores
José Rosa obteve informações iniciais sobre o comportamento do leitor que podem dar base a outros pesquisadores, para maior aprofundamento. A tese mostra que leitores assíduos aprenderam a ler cedo e têm potencial para gastar tempo e dinheiro com o livro. Eles não prezam, necessariamente, pela qualidade e começaram a ler em razão de alguma necessidade.
Para a maioria das pessoas, ler é um exercício difícil e não-prazeroso. Ele geralmente surge por auto-imposição, imposição da escola, igreja, trabalho, ou por descoberta de livros que motivem muito o leitor. Depois, a leitura torna-se cada vez mais prazerosa. O pesquisador também percebeu que o livro é universalmente valorizado, até por quem nunca leu um.
Para o pesquisador, o futuro da indústria do livro é incerto. “O estilo de texto do livro deve sobreviver, mas em formatos digitais”, explica. “O livro digital é mais ecológico, com custos de produção e distribuição menores”. Rosa também considera possível que o livro perca a importância que teve no passado: ” Com a internet a pessoa acessa a informação e cultura sem passar pelo livro impresso”, explica.