Memória digital além da vida

Jornal do Brasil Online

Memória digital além da vida
Nova ferramenta, Legacy Locker acaba com problema de bloqueio de senhas após morte de usuário

Joana Duarte

Como proteger a vida digital após a morte? Começar uma agência funerária on-line pode parecer macabro, mas a ideia surge para suprir uma necessidade real: até hoje, não havia uma solução fácil para a recuperação dos dados privados de pessoas que faleceram. Nomes de
usuários, senhas e contrassenhas bancárias, números de contas de serviços como PayPal, iTunes e eBay, fotos, documentos pessoais e
mensagens privadas ficavam lacradas em uma espécie de ciber-purgatório, sem que parentes pudessem acessá-los após a sua morte. Para acabar com o problema, a Legacy Locker, fundada este mês pelo marqueteiro americano Jeremy Toeman, chega para oferecer um serviço de arquivamento e distribuição de bens on-line para parentes e amigos dos falecidos.

Taxa

Por um preço de US$ 30 ao ano ou uma taxa de inscrição permanente de US$ 300, a Legacy Locker guarda as chaves de acesso do indivíduo ao universo on-line, informando-as aos seus descendentes após a sua morte. E não se trata apenas de permitir o acesso dos familiares ao dinheiro na conta bancária ou às milhas de uma companhia aérea, mas também aos bens que têm valor puramente sentimental, como fotos e comentários postados em sites de relacionamento.

O método exige que o usuário confie a uma terceira pessoa, uma espécie de inventariante, a comunicação à Legacy Loker do óbito. Com essa
informação, a empresa comunica aos beneficiários do falecido as informações confiadas. Em breve, diz Toeman, seus clientes também poderão gravar no site da empresa mensagens e vídeos de despedida, para serem enviados após a sua morte.

A Legacy Locker está estruturada em um sistema seguro e imune a invasões de hackers. Basicamente, a empresa garante a segurança dos dados
enquanto estiverem ali guardados até o momento de sua entrega para as pessoas apontadas como beneficiárias.

Jeremy Toeman trabalha diretamente com advogados e consultores financeiros que, nos EUA, são encarregados de elaborar inventários e
testamentos. O recurso é oferecido por esses profissionais como mais um serviço de proteção de bens.

– A Legacy é uma ferramenta muito útil para advogados porque são eles que passam mais tempo com os clientes, estabelecendo o destino final de seus bens materiais – avalia Toeman. – É um serviço valioso que eles poderão acoplar aos pacotes já oferecidos para todos aqueles que tenham diferentes contas na internet com senhas e contrassenhas distintas.

Ele acredita que a companhia será capaz de conseguir, a médio prazo, um bom número de usuários, porque é dirigida “a pessoas que já estão
gastando dinheiro para organizar a herança de seus bens fora da internet”.

– Durante um voo no verão passado me dei conta de que todos os meus bens estavam protegidos em meu testamento, mas não tinha estabelecido nada para meus ativos arquivados on-line – lembra o empresário. – A contrassenha do meu computador, minhas cinco contas de e-mail, meu crédito na Amazon. Se algo acontecesse comigo, tudo ficaria inacessível para a minha mulher, apesar de ter escrito um testamento. Quando penso nos serviços aos quais aderimos, como Flickr, e-mails, PayPal e outros, vejo que eles têm valor significativo para mim e minha família.

De acordo com Toeman, há cerca de 25 mil consultores financeiros profissionais nos Estados Unidos, atendendo a aproximadamente 12,5 milhões de pessoas que já protegeram seus bens em testamentos. Dado o custo deste planejamento, Toeman acredita que um acréscimo de US$ 300 para assegurar o acesso da família aos bens digitais do ente falecido é bastante razoável e será bem aceito.

– O site foi ativado há menos de duas semanas, e já temos milhares de usuários em todos os continentes. Pretendemos criar versões em outras
línguas em breve – conta. – A morte de um ente querido não precisa levar ao túmulo sua memória digital.

Segunda-feira, 20 de Abril de 2009 – 00:00

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