Inteligência computacional aplicada, eficiência e valor

GAZETA MERCANTIL, 16.04.09, p. A3 – Opinião

16 de Abril de 2009 – Já há algum tempo se alardeia a mudança da Era Industrial para a Era do Conhecimento, mas ainda estamos no meio desse processo. A partir do advento de tecnologias como o computador pessoal e a internet, nos anos 1980 e 1990, a globalização avançou rapidamente, promovendo uma concorrência cada vez mais acirrada no meio empresarial. Essa disputa vem sendo decidida até agora por crescentes ganhos de escala e eficiência obtidos a partir da implementação de estratégias de administração. Mas esse caminho tem limites, inclusive sociais, se os salários passam a ser alvo de cortes e a jornada de trabalho, de aumentos.

Enquanto isso, a tecnologia continuava se desenvolvendo e fazendo com que, entre outras coisas, a informação deixasse de ser algo tão caro e difícil de se obter para tornar-se extremamente abundante. Isso criou um outro problema, que é o que fazer com tamanha quantidade de informação. Muitas empresas logo perceberam que essa informação poderia ser transformada em conhecimento e, consequentemente, em mais eficiência e valor. Mas como fazer isso? Daqui em diante, a resposta a essa pergunta será fundamental para o sucesso no concorrido mercado globalizado, em que é cada vez mais difícil crescer por meio de ganhos de escala e eficiência, pelo menos sem recorrer à tecnologia.

É aí que entra a Inteligência Computacional Aplicada (ICA). Cada vez mais requisitada por companhias do porte de Petrobras, Cia. Vale do Rio Doce e Light, a ICA é capaz de transformar dados em conhecimento útil e dar soluções a problemas específicos do dia a dia corporativo que executivos e técnicos não acreditavam haver solução em nenhum lugar do mundo. Exemplos disso são a simulação do melhor ponto para se perfurar um poço de petróleo, a otimização da linha de produção de uma refinaria ou a identificação das fraudes no sistema elétrico de uma companhia, sem precisar visitar cada um de seus milhões de clientes. Criada como um braço da Tecnologia da Informação (TI), ela é atualmente uma disciplina central da já difundida Business Intelligence, sendo utilizada por profissionais que vão de administradores e advogados a engenheiros, físicos e até médicos.

A ICA consiste em métodos avançados de apoio à decisão por ferramentas de software que reproduzem, nos computadores, aspectos do comportamento humano como aprendizado, inferência, percepção, raciocínio, evolução e adaptação. Essa computação diferenciada é obtida por meio de técnicas de nomes aparentemente complicados, mas que já foram bastante testadas e têm sua eficiência comprovada em inúmeras aplicações inovadoras. Redes Neurais, Algoritmos Genéticos, Lógica Fuzzy, Sistemas Especialistas, Métodos de Otimização Multicritério e Sistemas Híbridos são algumas delas.

Os processos de tomada de decisão em empresas e outras organizações dependem do conhecimento que os gestores têm de seus negócios. Muito desse conhecimento pode ser retirado dos dados resultantes da atividade normal da empresa e que são continuamente acumulados pelos sistemas de informação. A transformação eficiente e eficaz desses dados em conhecimento útil passa pelo domínio de técnicas de manipulação e de análise de dados. Uma primeira etapa desse processo consiste na teoria de base de dados – Online Transaction Processing (OLTP), data warehousing e Online Analytical Processing (Olap) -, que se concentra na manipulação dos dados. A Inteligência Computacional Aplicada é um passo adiante.

Em outras palavras, ela analisa dados e os transforma em informações que são utilizadas para conquistar uma vantagem competitiva. Além de solucionar problemas, a inteligência oferece às empresas sistemas necessários para identificar tendências, melhorar relacionamentos, otimizar processos e logística, reduzir custos e riscos financeiros, aumentar a segurança operacional e criar oportunidades de negócios.

Tudo isso se torna ainda mais importante considerando o momento de crise da economia mundial. Inteligência, eficiência e valor não são um neoparadigma. A Inteligência Computacional Aplicada nos negócios, sim. Nesse sentido, enquanto o Brasil dos negócios inteligentes engatinha, a gestão pública inteligente ainda aguarda ser concebida.

kicker: Ferramenta para transformar dados em conhecimento e dar soluções

(Gazeta Mercantil/Caderno A – Pág. 3)

MARCO AURÉLIO PACHECO* – Coordenador do Laboratório de Inteligência Computacional Aplicada (ICA) da PUC-Rio)

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