Calourada na biblioteca

Em trote solidário, calouros da USP fazem `apagação´ de livros rabiscados

23 de Fevereiro de 2010

Os calouros do curso de psicologia da USP (Universidade de São Paulo) passaram por um trote diferente das tradicionais pinturas de guache nesta segunda-feira (22).

Com borrachas em punho, eles tiveram que apagar as rasuras feitas por outros alunos em livros da biblioteca da faculdade. A atividade, chamada de “Apaga-ação”, ocorreu pelo terceiro ano consecutivo e faz parte da semana de calouros da unidade.

A ideia é colaborar com a conservação do acervo e conscientizar os bixos (nomenclatura da USP para os calouros) a não rabiscarem os livros. A biblioteca fornece borracha macia e, durante uma hora, os calouros apagam anotações, rabiscos, sublinhados e marcas feitas a lapis no acervo.

Segundo a diretora da biblioteca da Faculdade de Psicologia, Maria Imaculada Cardoso Sampaio, a ação já contribuiu para a diminuição do número de obras rasuradas. “É importante alertá-los de que o livro é patrimônio público e não deve ser estragado. Além disso, textos com anotações podem dirigir a leitura de quem irá lê-los, e isso não é aconselhável”, diz.

Célia Regina de Oliveira Rosa, coordenadora da atividade e chefe da seção de acesso à informação da biblioteca, nota que a apagação surte mais efeito sobre os alunos do que exposições com os exemplares danificados. “Mesmo os livros que sempre eram os mais rasurados, depois do trote, já não vêm tão rabiscados”, afirma. Os livros de Freud, Jung e Winnicott, leituras básicas dos estudantes da graduação, estão entre os que têm mais anotações feitas pelos graduandos.

Os veteranos não sentem falta do trote antigo, com pedágios e festas? De acordo com uma das organizadoras da semana dos bixos, Gabriela Aquino Kleiner, 19, a semana terá esse tipo de atividade, além de ações solidárias, como doação de roupas e brinquedos. “Dá tempo para fazer tudo. Na matrícula os calouros também foram pintados, mas foi tudo muito calmo. Pode ver que tem muita gente aí que ainda está cabeluda, porque não quis cortar o cabelo, e a gente respeitou”, explica.

Calouros aprovaram
Apesar do cansaço após um dia inteiro de atividades –os calouros chegaram às 8h e a apagação foi das 16h às 17h30– os estudantes aprovaram a iniciativa. “É interessante, porque é um jeito de fazer sentir na pele o que a gente faria”, diz Gianlucca Vergian Dalenogare, 19.

“Eles grifam tudo e depois nem vão ler; por que não pegam um papel à parte e anotam?” questiona a caloura Priscilla Terumi Moraes, 20. “É uma falta de respeito”, completa. “A gente não vai riscar nenhum livro, porque o choque é grande”, desabafa Aline Carrenho, 21. “Até por estarem na faculdade, essas pessoas deveriam saber que não pode [rabiscar]. É uma falta de consciência muito grande”, diz.

Michelle Gallindo, 17, até aproveitaria uma boa rasura: “Se for uma anotação boa, eu até aproveito, mas um livro limpo é mais bonito, né?”, opina.

Fonte: http://www.saocarlosoficial.com.br/noticias/?n=MA3787K3JH

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