Coleções renomadas são atiradas no lixo e até rejeitadas por sebos de Ribeirão Preto
Régis Martins
Imagine você, leitor, encontrar cerca de dez volumes de uma enciclopédia respeitada com livros de capa dura e papel de qualidade, jogados na lixeira. Pois foi o que aconteceu com este repórter, que se deparou com a cena no prédio onde mora: uma coleção inteira da renomada Larousse em vias de ser descartada sumariamente.
Porém, o pior estava por vir. Resgatada, o passo seguinte se tornou quase que uma missão impossível. Ao tentar doar os livros a sebos e bibliotecas do Centro de Ribeirão Preto, ninguém aceitou a coleção. Foi preciso entrar em contato com uma ONG que desenvolve um projeto de incentivo à leitura, para conseguir um lugar seguro para os livros.
“O computador acabou com as enciclopédias. A única opção é vender esses livros para a reciclagem”, afirma Hildete Regina Gomes, funcionária do Sebo do Brechó.
Hildete informa que graças a sites de consulta como o Google e Wikipédia, as coleções de livros sobre conhecimentos gerais caminham para a extinção. Atualmente, no sebo, nem vendendo cada volume da Enciclopédia Barsa, por exemplo, a um real, os livros são comercializados.
“Às vezes, vem alguém comprar um ou dois livros para usar como decoração. E só. Aqui no sebo só ocupa espaço”, diz.
Lan house
Antônio Augusto, dono do Sebo da Nove, concorda com Hildete: “a internet matou a enciclopédia”.
“Essa garotada não quer mais saber de fazer pesquisas em livros. Vão logo no computador, que é mais rápido e mais fácil”, explica.
Antônio não trabalha com enciclopédias. Para ele é perda de tempo e espaço. O pouco que tinha, entregou para sucateiros que passavam pela rua.
“Os tempos mudaram. É ruim, porque nada substitui um livro”, afirma o comerciante.
O chefe de seção da biblioteca Altino Arantes, Rogério Rodrigues, diz que a área dedicada à pesquisa, onde estão as enciclopédias, fica praticamente vazia.
“Caiu bastante. Os jovens preferem ir a uma lan house, entrar no Google, imprimir a página e pronto”, comenta.
E olha que a Altino Arantes tem as melhores: Barsa, Mirador e Larousse.
“É ruim, porque o interesse pela leitura acaba. Eu mesmo pesquisei muito em enciclopédia”, ressalta.
Disponível em: http://www.jornalacidade.com.br/editorias/caderno-c/2011/02/14/enciclopedias-perdem-espaco-nas-livrarias-e-bibliotecas.html. Acesso em: 15 fev. 2011.