Bibliotecas em Goiás ainda no passado

BIBLIOTECA MARIETA TELLES MACHADO, NA PRAÇA UNIVERSITÁRIA

A pesquisa Retratos da Leitura do Brasil feita em 2011 revelou que 40% dos brasileiros que têm acesso à internet estuda ou pesquisa por meio da rede. O estudo mostra também que a utilização da web para os estudos e dos novos suportes de leitura, como tablets e smartphones, não foi tão positiva para uma das instituições mais seculares da área: a biblioteca. “Antigamente nós tínhamos um número maior de usuários”, avalia Maria do Socorro Abreu de Lima, diretora da Biblioteca Estadual Pio Vargas, na Praça Cívica, em Goiânia.
A bibliotecária narra um cenário parecido com a realidade vivida também por outros estados brasileiros, e que dados da mesma pesquisa confirmam: hoje apenas 7% da população brasileira frequenta a biblioteca.
E o perfil dos frequentadores também mudou. Atualmente, os concurseiros são os maiores usuários desses espaços que, antes, eram um dos principais redutos de estudantes.
Além disso, hoje esses alunos vão munidos não só de livros, mas também de seus computadores pessoais. “Eles só usam a mesa, a cadeira, a luz, o ar-condicionado e, às vezes, o dicionário”, revela Ana Maria Nogueira Pinto, bibliotecária da Biblioteca do Sesc da Rua 19, em Goiânia.

Em busca de silêncio
“A televisão, geladeira, internet, o barulho e vários outros atenuantes tiram a minha atenção. Um dos motivos de eu não estar em casa é a concentração”, conta o bancário e concurseiro Bruce Moreira Costa, que há um mês frequenta a Biblioteca Municipal Marieta Telles Machado, na Praça Universitária, em Goiânia.
Ele não usa os recursos oferecidos pela biblioteca, apenas usufrui do ambiente. “Eu trago meus livros, pois eles são de acordo com o edital do concurso”, explica. Para a diretora do espaço, Márcia de Oliveira Lourencetti, o motivo que ainda atrai as pessoas para a biblioteca é a tranquilidade do ambiente.
O depoimento do estudante de mestrado em Meio Ambiente da UFG, Diogo Coelho Crispim, reforça o argumento de Márcia. “Vou à  biblioteca porque é um lugar com menos movimentação e onde todo mundo está focado. Aqui é mais apropriado para fazer os estudos, é mais sossegado”, garante ele.
A coordenadora do curso de Biblioteconomia da UFG, Janaína Ferreira Fialho, acredita que as novas tecnologias não são concorrentes da biblioteca, pois esses espaços podem abarcar todo tipo de material, inclusive o digital. “Todas elas devem ter acesso à internet e fazer parte das redes sociais. Os usuários estão afastados porque não encontram, nas poucas que existem em Goiânia, essas possibilidades”, avalia.


Espaços desconectados

A grande questão é que hoje, em Goiânia, não existe uma única biblioteca pública estadual ou municipal que se adeque a esses novos padrões. Em nenhuma delas há internet disponível aos usuários.
O estudante da UFG, Diogo Coelho Crispim, sente essa dificuldade toda vez que vai à Biblioteca Municipal Marieta Telles Machado. Lá, a rede wireless deixou de funcionar no ano passado e não há computadores disponíveis para o acesso a web.
A solução encontrada  por ele foi utilizar o próprio smartphone para ‘entrar’ na rede mundial de computadores. A Biblioteca Municipal Cora Coralina, localizada na Praça Joaquim Lúcio, em Campinas, enfrenta situação semelhante.
Computadores? Somente para o acesso dos funcionários. Na Biblioteca Estadual Pio Vargas, na Praça Cívica, a rede sem fio também não funciona desde o ano passado e há apenas um computador com internet para atender os usuários.
Em Goiânia, as únicas bibliotecas que oferecem serviço de rede wi-fi aos usuários não são públicas. Elas pertencem à rede Sesc ou são vinculadas às universidades que, apesar de permitirem o livre acesso do público ao espaço e ao acervo, tem limitações quanto ao empréstimo de livros e a determinados espaços.

Políticas públicas
Esse cenário de atraso encontrado na Capital goiana é resultado da falta de políticas públicas eficientes para as bibliotecas, avalia Janaína Ferreira Fialho, coordenadora do curso de Biblioteconomia da UFG. “Precisamos de mais bibliotecas e também é necessário melhorar a  estrutura física e financeira das atuais”, defende.
Além disso, a coordenadora acredita que a biblioteca deve ser um espaço cativante para incentivar a sociedade a frequentá-la, sendo fundamental, inclusive, investir numa campanha de marketing. “É preciso criar uma cultura de uso desses espaços e isso deve ser trabalhado principalmente na Educação Básica e, obviamente, precisamos de locais bem estruturados e atrativos.”


Bom exemplo está na rede privada

Em Goiânia, uma das poucas bibliotecas que trabalha com estratégias para estimular a frequência dos leitores é a do Sesc da Rua 19.
Para tornar o ambiente mais atrativo, a bibliotecária Ana Maria Nogueira Pinto relata que costuma mudar as prateleiras do lugar e ainda investe na compra de recursos multimídia e de outros suportes.
E também está sempre desenvolvendo ações de promoção à leitura entre os usuários. O resultado dessa iniciativa é uma frequência constante de mais ou menos 300 usuários/dia.
Já a Biblioteca da UFG no Campus 1, situada próximo à Praça Universitária e inaugurada há pouco mais de um mês, registra mais de 900 usuários diariamente.
O alto índice de frequentadores, segundo a coordenadora do espaço, Cláudia Regina Ribeiro Rocha, se deve à infraestrutura do local, que conta com um espaço de 5 mil m² totalmente climatizado com acesso a wireless.

Atraso goianiense

Enquanto muitas bibliotecas públicas estaduais e municipais de outras cidades do país estão se modernizando, as de Goiânia permanecem com um quadro desanimador: há poucas bibliotecas e as que existem estão com estrutura obsoleta. A Capital goiana conta com apenas três bibliotecas públicas de acervo geral, duas municipais (Marieta Telles e Cora Coralina) e outra estadual (Pio Vargas).
E nelas, além do mobiliário velho e dos livros já defasados, não há acervos de periódicos. As poucas revistas existentes são frutos de doação e há apenas a assinatura de dois jornais locais.
Nenhuma delas oferece rede wi-fi e somente na Biblioteca Estadual Pio Vargas há um computador disponível para o acesso do público.
Outro problema recorrente é a falta de bibliotecárias, atendentes e arquivistas, déficit que a superintendente do Patrimônio Histórico e Artístico da Secretaria Estadual de Cultura, Deolinda Conceição Taveira Moreira, reconhece.
Ela acredita, no entanto, que essa deficiência será suprida até julho deste ano com a realização de concurso público. Mas a possibilidade de ampliações, inclusão de novas tecnologias e recursos para atrair leitores está descartada.

Oscar Niemeyer
Já a Biblioteca do Centro Cultural Oscar Niemeyer, vinculada ao estado, está quase pronta. “A parte física já está finalizada. Estamos só aguardando a liberação de recursos para a compra dos livros”, explica a gerente de museus e bibliotecas do local, Tânia Mendonça.
Segundo ela, o espaço será totalmente virtual e a intenção é de que a catalogação de livros e treinamento de pessoal já aconteça no segundo semestre, mas também não há previsão para inauguração.
No âmbito municipal, as movimentações estão em torno da inauguração da Biblioteca Infanto-Juvenil do Grande Hotel, que acontecerá no dia 21 de fevereiro. De acordo com a diretora de política e eventos culturais da Secult, Marci Dornelas, o espaço nasceu de um projeto da UFG e terá mais de 3 mil livros de diversos gêneros, indo da literatura à teoria.

Disponível em: <http://tribunadoplanalto.com.br/index.php?option=com_content&view=article&id=16128:bibliotecas-em-goias-ainda-no-passado&catid=60:escola&Itemid=8>. Acesso em: 26 fev. 2013.

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