Presidente da Fundação Biblioteca Nacional é demitido por Marta Suplicy

Marta Suplicy em uma visita a Galeno Amorim na Biblioteca Nacional MONICA IMBUZEIRO/ AGÊNCIA O GLOBO

RIO – Desgastado pela crise histórica que atinge a Fundação Biblioteca Nacional (FBN) e que se aguçou no último ano, o paulista Galeno Amorim será substituído na presidência da entidade pelo cientista político e professor Renato Lessa. Segundo o Ministério da Cultura (MinC), a troca de comando depende apenas da tramitação burocrática prevista em lei.

A ministra Marta Suplicy convidou Lessa, e ele já aceitou assumir o cargo. Professor-titular de Teoria Política da Universidade Federal Fluminense (UFF), Lessa é mestre e doutor pelo Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (Iuperj) e tem experiência em gestão pública. Em 2002, foi diretor-presidente da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj). Em artigos e entrevistas a jornais e sites, Lessa tem sido também um forte crítico ao PT. “O partido está desgastado mesmo. A pior coisa que poderia acontecer ao PT é estar no poder há tanto tempo. Era bom para o país ter um partido como o PT na oposição (…). O governismo tomou lugar do petismo. O PT, em certo sentido, dissolveu-se na grande coalizão”, disse ele ao jornal “Valor”, em junho de 2011.

Substituto do professor Muniz Sodré na presidência da FBN, Galeno Amorim (leia entrevista na página 2) assumiu o cargo em janeiro de 2011, aceitando um convite da então ministra da Cultura, Ana de Hollanda. À frente da Biblioteca Nacional, se deparou com problemas estruturais de grande porte. Em maio de 2012, a tubulação do ar-condicionado original da casa estourou e causou uma inundação no armazém de periódicos da biblioteca, onde eram guardadas mais de cinco milhões de peças. Entre as mais afetadas estavam obras do início do século XX e jornais antigos. Desde então, o ar-condicionado não funciona. Em dias de muito calor, a temperatura dentro da instituição já atingiu 47 graus.

O conjunto de problemas fez com que, em janeiro, os servidores da FBN fizessem uma paralisação de protesto. O grupo reclamava, entre outros pontos, do calor que colocava em risco as obras lá armazenadas e da queda de um pedaço de reboco do teto, que quase atingiu um funcionário. Somado a isso, Amorim também não conseguiu levar a cabo algumas das metas anunciadas como prioridades em janeiro de 2011. A reforma emergencial do anexo da Zona Portuária, que abriga parte do acervo que já não cabe na sede da instituição, não saiu do papel. E ainda está em fase de testes a internet sem fio que ele pretendia implementar na biblioteca como parte de um processo de modernização tecnológica.

Ex-secretário de Cultura de Ribeirão Preto na gestão do então prefeito Antonio Palocci (PT), Amorim conduziu a FBN mobilizado por três grandes projetos: a participação do Brasil como homenageado da Feira de Livros de Frankfurt (a maior do mundo), que acontece em outubro; a incorporação do Plano Nacional do Livro e Leitura à estrutura da entidade, há cerca de dois anos; e o aumento no número de traduções de obras brasileiras, por meio do Programa de Apoio à Tradução. Fora isso, Amorim promoveu a digitalização de parte do acervo e lançou em agosto passado a Hemeroteca Digital, hoje considerada a menina dos olhos da instituição.

Anteontem, em encontro com a ministra Marta Suplicy, Amorim apresentou um relatório com o programa de recuperação da biblioteca. E lembrou que o sistema de ar-condicionado da entidade é dos anos 1950 e está “deteriorado” — “com tubulação corroída” — e que o sistema de combate a incêndios é “insuficiente” — apesar de o alarme ter sido instalado em sua gestão.

A saída de Galeno, antecipada na noite de terça no blog do colunista do GLOBO Ancelmo Gois, é alvo de especulações desde o ano passado. No início do mês, após a transferência de Maristela Pinto da posição de chefe de gabinete de Marta para a diretoria executiva da FBN, houve rumores de que esse seria o primeiro passo da ministra para reformular a direção da entidade. Maristela ocupará a chefia interina da instituição até a exoneração oficial de Galeno (que deve ocorrer ainda hoje) e a posse de Lessa.

Em nota, a Associação dos Servidores da FBN (ASBN) destacou que a gestão de Amorim foi marcada pela inclusão da política do livro e leitura na agenda da entidade e que isso fez com que ele terminasse por não “dar grande importância aos problemas estruturais vividos pela Biblioteca”. A ASBN reconheceu que “trabalhou intensamente para tornar públicas essas questões” e lamentou que a administração não tenha tido “a celeridade condizente com a urgência dos problemas”. Apesar disso, diz que, com Amorim, “construiu um importante canal de comunicação com a presidência”.

No que diz respeito ao futuro presidente da instituição, a associação afirmou: “Nossa expectativa é de que a nova direção priorize a realização de uma profunda reestruturação da BN e dê continuidade, com seriedade e competência, ao processo de recuperação da infraestrutura anunciada. Para isso, uma gestão democrática é imperativa e deverá contar com a participação dos servidores de carreira da instituição”.

Disponível em: <http://oglobo.globo.com/pais/presidente-da-fundacao-biblioteca-nacional-demitido-por-marta-suplicy-7956608>. Acesso em: 30 mar. 2013.

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