Meditações sobre um manifesto bibliotecário

Bibliotecários, não sei se irão às ruas por uma causa profissional, mas em meio a tantas e diárias manifestações, no mínimo há que se pensar um pouco em algumas questões, para o bem do presente e do futuro de nossa profissão.

Estamos subordinados às editoras, e por editoras me refiro a grandes conglomerados, nacionais e estrangeiros, que dominam as publicações que abastecem nossas  instituições. Publicações essas que formam e formarão a mentalidade da população de hoje e de amanhã. Eis aí nossa responsabilidade: lutar pela diversidade do mercado editorial, isto é, das ideias em circulação. Mais do que isso: lutar pela diversidade de conteúdo, tendo em vista que não há mais suporte em que a informação não possa ser registrada.

Falando em suporte, lembremo-nos dos e-books, os tais aparatos/artefatos/dispositivos ou o nome que queira dar ao objeto da última moda em leitura digital (novamente falando sobre o suporte: a leitura digital já era feita em nossos computadores, notebooks, etc.; os e-books são mais uma opção). Mas não nos alegremos tão rapidamente achando que isso vai resolver os muitos problemas com a leitura em nosso país (irônico, como se “muitos” coubesse numa palavra tão pequena). Aqui, mais uma vez, estamos de mãos atadas tanto pelas mesmas empresas como por novas, que poderão subordinar seus aparatos aos seus formatos proprietários de arquivos, impondo-nos seus nefastos contratos, embora aparentemente estejam ocorrendo mudanças nesse sentido.

Não bastasse isso, estamos viciados em  um (poderíamos ser viciados pelo menos nos três) buscador. Aqui também existe um pequeno grupo que domina o mercado de buscas online e com o qual deve-se conviver, pois não já não nos imaginamos sem buscadores, tal como não podemos viver sem oxigênio. Aqui a nossa luta deve-se começar já na infância, na alfabetização informacional, embora eu acredite que enquanto a geração digital não assumir as bibliotecas, isso não vá se concretizar de fato, pois para ela o digital será o que para nós são os buscadores e o oxigênio. Claro que pode haver casos de sucesso, ensinando pesquisa escolar aqui, como usar a Internet ali. Mas ainda é muito pouco. Há que se mostrar o amplo acervo e as muitas formas de se navegar nessa Biblioteca de Babel contemporânea, a Internet.

Não bastasse isso, temos uma lei de direitos autorais sofrível. Nascida quase no mesmo período em que a Internet se tornou pública no Brasil, tentou satisfazer editores e autores. Em vão. Hoje, os editores não sabem como reagir frente ao movimento de autopublicação na Web, enquanto que os autores são iludidos pela possibilidade de serem lidos, sendo que a Internet é uma terra de ninguém. Feliz ou infelizmente.

Pior (pior?): nunca o tema do plágio fez-se tão presente. De norte a sul do planeta. Já são públicos os casos de dirigentes de nações de várias partes do globo que  tiveram seus títulos acadêmicos cassados por plágio, o que não acredito que ocorrerá em terra brasilis. Desculpem, não acredito mesmo, estejam vocês nas ruas ou não. Não depois de casos de avacalhação do Currículo Lattes, iniciativa única no mundo, tal como o Scielo, ambas brasileiras, e só por isso devemos nos orgulhar. Só por serem brasileiras. E não por termos conhecimento de Currículos Lattes forjados em nome de terceiros, ou com publicações inexistentes, informações falsas e incompletas, qualquer cerca de praça que é contada como projeto…

Esses são, bibliotecários, alguns dos motivos que penso que podem nos incitar para irem às ruas. Não sei o quanto isso nos incomoda, pois não tenho conhecimento de discussões constantes sobre esses e outros assuntos que as vezes me pego pensando. Será que a hora não seria agora e o lugar aqui?

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