SNBU 2014: dia 17/11/2014

O segundo dia do SNBU 2014 teve início com a sessão “Organização da informação, práticas colaborativas e redes de conhecimento: desafios à atuação bibliotecária”, cujo eixo temático foi “Organização e serviços de informação”. O professor Juan Carlos Fernández Molina (Universidade de Granada) apresentou a conferência “Contribuição da biblioteca universitária ao uso ético e legal da informação no meio acadêmico”.

O objetivo do professor foi mostrar a situação do uso da informação no meio universitário e verificar as habilidades de professores, alunos e bibliotecários sobre o tema, bem como destacar o papel da biblioteca universitária no meio. Iniciou sua fala explicando que tanto os professores como os aluno estão envolvidos no criação e uso de obras intelectuais, como imagens, artigos, dentre outros, ressaltando que o direito autoral independe de registro em qualquer órgão de propriedade intelectual. Esse direito carrega consigo os seguintes tópicos: reprodução, distribuição, comunicação ao público, transformação, paternidade e integridade. Destacam-se os itens comunicação, que atualmente, com a Internet, ampliou-se, pois nesse meio o conteúdo é intangível, e a integridade, que evita a deformação da obra original. Dentre os direitos previstos na lei autoral brasileira, destacam-se o download (art. 29, I), upload (art. 29) e DRM (art. 107, III).

No ambiente digital, Fernández Molina destacou o alto uso de recursos informacionais licenciados, repositórios, crescimento do e-learning e movimento copyleft e “ética hacker”. Em relação às licenças, pontuou que os termos de uso de cada recurso são diferentes dependendo da licença, bem como lembrou que as disposições da licença são impostas à lei autoral, e que o texto geralmente é desconhecido ou indisponível, tanto para usuários como para bibliotecários. No que se refere aos repositórios, o pesquisador comentou que os professores devem saber em que condições podem arquivar seus artigos para evitar possível conflito com as editoras, além de expor que os alunos também devem saber sobre o arquivamento e suas implicações. Sobre o e-learning, Fernández Molina expôs que os professores devem saber quais obras podem usar e em quais situações, já que os materiais “deixam” a sala de aula, enquanto que os alunos abusam da prática de cópia e devem conhecer as regras sem violar a lei autoral. No que tange ao copyleft, o professor citou iniciativas como GNU, Creative Commons, acesso aberto e “ética hacker” (filosofia de um grupo de usuários da internet que considera o direito autoral obsoleto e que deve desaparecer).

Foram feitas considerações sobre possíveis problemas éticos, tais como o plágio, termo que não aparece na lei autoral e no Código Penal, embora haja um consenso de que da ilegalidade quando há cópia substancial de conteúdo. Na academia, o plágio pode afetar tanto alunos, professores, editores, que devem ter cuidado em suas publicações para que não sofram punições disciplinares. Neste contexto, existem recomendações da ACRL e ANZIIL. Após a demonstração dos resultado de um estudo, Fernández Molina mostrou que, em geral, alunos, professores e bibliotecários possuem pouco conhecimento sobre direito autoral, e destacou, conforme o Top trends in  academic libraries (2010), que uma das tendências da biblioteca universitária é orientar sobre o tema. Algumas universidades estrangeiras, como Columbia, Harvard, Duke e Kansas, possuem páginas próprias com informações sobre direitos autorais, plágio e temas correlatos, e denominam essa funççao de copyright officer/advisor e scholarly communication officer/librarian. O fato é que as bibliotecas brasileiras não possuem nenhum respaldo legal na lei autoral nacional, visto que não prevê limitações para bibliotecas e arquivos.

O professor finalizou comentando, dentre outro tópicos, que o uso ético da informação no ambiente acadêmico é fundamental, destacou o baixo conhecimento do assunto pela comunidade e ressaltou o dever das bibliotecas de oferecer orientação. Finalizou expondo que exceto países anglo-saxões, não se vê o o trabalho em direitos autorais como sendo uma função bibliotecária, e para reverter esse quadro, é necessário estar convicto desse papel e oferecer um plano de formação.

Na sequência, houve uma mesa redonda intitulada “Organização da informação e do conhecimento em contextos colaborativos e integrados em rede”. A primeira palestrante foi Mariângela Spotti Lopes Fujita (Unesp), que abordou a política de indexação. Apresentou, dentre outras questões iniciais, a importância da política para a recuperação de assunto, a falta de procedimentos sistematizados para a catalogação de assunto e que no momento da conversão retrospectiva os registros não são reindexados. Durante sua fala, apontou que a situação atual apresenta alguns entraves, tais como o imobilismo normativo e a perda de relevância das ferramentas documentais. Expôs, também, que a indexação na catalogação poderia ajudar a diminuir problemas na catalogação de assuntos, e explicou que a indexação esbarra na linguagem, acesso à linguagem e na política de indexação. Ao relacionar a indexação com a recuperação da informação, discorreu sobre a influência da política em dois aspectos: especificidade e exaustividade, afirmando que tem como objetivos, dentre outros, oferecer uniformidade e segurança, definir parâmetros comuns e dar consistência ao catálogo. Simone Aparecida dos Santos (UFMG) foi a segunda palestrante e em sua fala, fez um retrospecto de memórias, fatos e estudos que marcaram o trabalho do catalogador e seus esforços para atender aos usuários. Por fim, Cristina Dotta Ortega (UFMG) apresentou a palestra “O trabalho do bibliotecário em rede: a cooperação em jogo”, na qual basicamente discorreu sobre o trabalho de conclusão de curso de Diemy Lucimara de Souza, defendido em 2013 na ECI-UFMG. Abordando rapidamente os principais acontecimentos históricos da catalogação, Ortega fez comentários sobre as obras e trabalhos de Naudé (Manual de Biblioteca), Otlet e La Fontaine (repertório bibliográfico e Mundaneum), Panizzi, Jewett, Cutter, o surgimento do formato MARC em 1960 e do UNISIST em 1967, além de apresentar serviços em rede como catalogação cooperativa, COMUT, BVS, OCLC e Bibliodata.

No período da tarde, tiveram inícios as sessões orais e apresentação dos pôsteres, além da exposição de produtos e serviços das empresas participantes. Foi possível conferir uma apresentação da IET, que é uma editora e instituto de engenharia, na qual foi apresentada a IET eBooks, e também conhecer as plataformas LWW Oncology, Acland’s Atlas Human Anatomy e Lippincott Williams e Wilkins e-Books, ambas representadas no Brasil pela Elsevier.

Foi possível assistir, ainda, os seguintes trabalhos:

Práticas de treinamento e portal de periódicos: um estudo sobre a Universidade Federal de Ouro Preto Angela Maria Raimundo, Jussara Santos Silva, Sione Galvão Rodrigues – Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop)

Os impactos da mudança da Lei de Direitos Autorais brasileira no serviço de referência Maria Cristina Szarota Barrios, Mariana Granado de Souza Queiroz – Ministério Público do Estado de São Paulo (MP/SP) / Universidade de São Paulo (USP)

Este trabalho apontou a situação atual da lei, que impede a realização de empréstimo, cópia de obras esgotadas, cópia de capítulos de livros que ainda estão a venda, cópia digital de obra de referência muito usada e deteriorada, e como o projeto de reforma da lei autoral brasileira pretende reverter esse cenário a partir da inclusão de limitações e exceções para bibliotecas e arquivos.

Bibliotecas universitárias e mídias sociais: análise sobre o uso do Twitter pelas bibliotecas das universidades públicas do Rio de Janeiro Soraia Santana Capello, Alberto Calil Junior – Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio)

Template de normalização em LaTex Lívia Ferreira Coutinho Alonso, Larissa Carvalho Pinheiro, José Barbosa Gomes – Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF)

O CRM no contexto das bibliotecas: proposta de implementação na Biblioteca Central do Cefet/RJ Lívia da Fraga Lima, Rogerio Atem de Carvalho – Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca (Cefet/RJ)

Por fim, no período da tarde, foi possível assistir o workshop de Suely de Brito Clemente Soares, da Content Mind, oferecido pela Elsevir e intitulado “Bibliotecas de hoje e do futuro”, no qual a palestrante abordou o panorama atual das bibliotecas e bibliotecários, “catequizados” para trabalhar em mundo impresso, frente ao mundo digital do qual hoje fazem parte e os desafios que devem ser superados para se adequar a essa nova realidade.

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