SNBU 2014: dias 20/11/2014 e 21/11/2014

Sob o tema “Bibliotecas universitárias: intermediação e produção do conhecimento em tempos de conexões digitais” e eixo temático “Tecnologia”, o professor Murilo Bastos da Cunha (UnB) proferiu a conferência do quarto dia do SNBU 2014, “A biblioteca universitária e a gestão de dados científicos”.

Inicialmente o conferencista apresentou o conceito de Big Science, apontando alguns dados interessantes sobre este novo contexto, tais como que de 200o a 2013 a informação analógica passou a compor 2% do total existente, ao passo que o restante é digital. Para o professor, isso representa uma reversão do mundo informacional. Além disso, apresentou o conceito de Big Data, que trata grandes volumes de dados para extrair significado, o que está contribuindo, pela primeira vez, pela perda de memória da humanidade.” Portanto, o problema que se impõe atualmente é que a informação ultrapassa espaço para armazenamento e não se tem clareza do que armazenar, já que há dificuldade para trabalhar os dados. Sob esse ponto de vista, Cunha destacou que a solução pode ser a gestão da informação, e neste momento introduziu o conceito de E-science (também denominada curadoria de dados/dados científicos), que é uma parte do Big Data. Neste sentido, a gestão dos dados científicos (GDC), quais sejam, instrumentos de medida, experimentos, observações, imagem, vídeo, áudio, bases de dados, softwares, dentre outros, possui natureza colaborativa e multidisciplinar, por isso, é necessário refletir sobre como criar e comunicar esses dados, já que até o momento não foram objeto de preocupação do bibliotecário. Para tanto, é preciso incorporar serviços, redefinir papéis e agregar valor ao portfólio de serviços. Porém, algumas dificuldades enfrentadas são, dentre outras, o reconhecimento da importância da E-science e complexidade das estruturas.

Após esse panorama, Cunha apresentou recomendações da LIBER para o tema: apoio a GDC; desenvolvimento de serviços de metadados; desenvolvimento de competência profissionais; políticas institucionais de gestão de dados; trabalhar em articulação com o setor de tecnologia da informação; disponibilizar serviço de curadoria de dados científicos; citação dos dados e links permanentes; repositório; envolver-se e praticar a GDC; e oferecer ou mediar serviços de armazenamento. Desta forma, considera que os serviços de dados científicos serão demandados e será preciso que papéis até então não associados com o bibliotecário sejam assumidos por esse profissional. Por fim, indicou o livro “The data deluge: can librarian cope with e-science?“.

Após o coffee break, realizou-se a mesa redonda “Novas agendas de atuação e os perfis profissionais em bibliotecas universitárias”, que teve início com Ricardo Lemos Soares, da Fundação Dorina Nowill para Cegos (FDNC). O palestrante iniciou expondo o contexto da informação acessível e educação, qual seja: vive-se na era informação e em um mundo globalizado; as informações são, em sua maior parte, digitais e conectadas; deve-se prezar pelo direito de acesso e democratização da informação; e garantir o acesso à informação para pessoas com deficiência visual. Ao introduzir o conceito de acessibilidade, que é eliminar barreiras e obstáculos, apresentou os tipos e ferramentas existentes: metodológica e instrumental (publicações acessíveis em Braille e DAISY); audioguia e audiodescrição de espaços;  soluções expográficas/linguagem simplificada. Soares considera, ainda, que o acesso a livros (Braille, áudio e digital acessíveis) deve passar pela capacitação dos profissionais e bibliotecários que atendem aos deficientes visuais, além de serem necessários a adequação e preparação de materiais acessíveis, tanto em escolas como em bibliotecas.

No que se refere ao livro digital, o conferencista considera que o formato Epub ainda está preso ao conceito do livro impresso, pois tem certas restrições de uso, e sugeriu, dentre outros softwares sintetizadores de voz, dois gratuitos:  NVDA e Dosvox, este último desenvolvido pela UFRJ. Já que no tange aos equipamentos para leitura de livros digitais e audiolivros, foram destacados os tocadores de MP3, hardwares leitores de livros em DAISY (Victor Reader, Humanware, Dorina Daisy Reader, FSReader, Mec e Daisy). Por fim, o palestrante comentou que os próximos passos para a acessibilidade são o formato Epub 3 (convergência entre os formatos DAISY 3.0 e Epub 2.0) e o conceito de livro dinâmico, conectado, integrado, interativo e acessível, pois neste caso é preciso que o leitor tenha uma experiência de leitura completa que passe utilize outros sentidos. Para participar ativamente das questões de acessibilidade, foi sugerido ao público que conheça as tecnologias assistivas e tomem contato com os direitos dos deficientes.

Na sequência, a Profª Drª Lilain Maria Araújo de Rezende Alvares (IBICT) apresentou ações do instituto em que atua voltadas para o contexto atual. Sua exposição teve início com a afirmação de que as bibliotecas universitárias estão em um ambiente de mudanças no ensino superior, pois enquanto que na graduação ocorrem níveis preocupantes de evasão e preocupações em torno da EaD, ainda desigualmente distribuída pelo país, a pós-graduação ainda precisa fazer com que a ciência brasileira alcance níveis expressivos de internacionalização e visibilidade, assim como expandir a participação no programa Ciência sem Fronteiras, haja vista que 1/4 dos alunos vão para Portugal. Em seguida, teceu comentários sobre o desenvolvimento de coleções, explicando que com o digital o território já não mais importa, pois ele é dinâmico, remoto e conectado, bem como expôs o conceito de humanidades digitais, que trata do encontro  das ciências sociais com as tecnologias, destinada a estudá-lo, sobretudo em bibliotecas, arquivos, museus, coleções universitárias e instituições de memória. Além disso, em função do contexto, digital, há uma nova visão de empréstimo, licenciamento, aquisição e assinatura, dentre outras atividades bibliotecárias.

Alvares também falou sobre a preservação digital como sendo um amadurecimento das coleções digitais e planejamento a longo prazo, haja vista que deve constar do planejamento estratégico de uma biblioteca universitária. Sobre os dados científicos e curadoria, a palestrante expôs que isso já é realizado no exterior, a exemplo da NSF, o “CNPq norte-americano”, pois o mesmo exige, na apresentação de projetos, a forma de planejamento e gestão dos dados resultantes da pesquisa financiada. Para tanto, é necessário adotar um padrão, tanto para repositórios, como de metadados e para a organização de infraestrutura para implementação das ferramentas. Sobre a comunicação científica e acesso aberto, Alvares endossou a necessidade de esforços para incentivá-lo e apoiá-lo além das atividades legislativas e executivas, sobre as quais recai maior ênfase atualmente. Por fim, defendeu a adoção de modelos sustentáveis, a exemplo da revista Jove, assim como de novos modelos de educação superior com o uso, dentre outras tecnologias disponíveis, dos recursos educacionais abertos (REA), além de ter mencionado a computação em nuvem e o contexto de cooperação e colaboração em que devem atuar as bibliotecas universitárias.

Encerrando a mesa redonda, o Profº Drº Waldomiro  de Castro Santos Vergueiro (USP) relatou uma pesquisa realizada em parceria com a Universidade Carlos III de Madrid sobre o mercado de trabalho do bibliotecário no Brasil e na Espanha, visando identificar as competências e atitudes exigidas atualmente por meio de anúncios de trabalho na Catho e Portal do Bibliotecário. Começou destacando alguns aspectos da sociedade atual, como a questão de permanente mudança enfrentada pelos profissionais da informação, a não limitação do espaço físico e o envelhecimento precoce das ferramentas de trabalho. Algumas das implicações apontadas são: a redefinição do mercado (a necessidade de criar e invadir outros mercados), o impacto nos currículos (os cursos formam bem o que se exige profissionalmente, mas não para o que o mercado solicita) e a emergência de uma nova cultura acadêmica.

Identificaram-se 23 setores de atuação, com destaque para a educação, no qual foram encontradas a maioria das vagas, seguido de informática e provedoras de serviços. Em relação aos conhecimentos, pede-se um perfil tradicional mesclado com comunicação e atenção para usuários. Segundo o palestrante, o futuro dependerá do valor que o profissional possa agregar à instituição, para tanto, há que se trabalhar com gestão de sistemas, atenção ao usuário, armazenamento e gestão e recuperação da informação. Também foram identificados conhecimentos em tecnologias que são demandados, a saber: sistemas de informação, software documental, bases de dados, desenho web e linguagens de programação. No que se referem às habilidade, Vergueiro comentou dentre as demandadas encontram-se comunicação oral e escrita, domínio de língua estrangeira e conhecimento de produtos de informática (Prolink, Excel, Adobe ou pacote Office). Finalizou destacando que a análise de anúncios é um caminho para se aproximar do mercado e que eles pedem um perfil técnico aliado ao alto manuseio de tecnologia.

Os últimos trabalho assistidos no período da tarde foram:

Uso de ferramentas colaborativas em trabalho coletivo Célia Regina Inoue , Cristina Marchetti Maia, Silvia Nathaly Yassuda, Ana Paula Rímoli Oliveira, Vânia Aparecida Marques Favato, João Josué Barbosa, Terezinha Cristina Baldo Vernaschi , Maria Irani Coito, Laura Odette Dorta Jardim, Micheli Antonia Oshima – Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (Unesp)

Usabilidade do blog da Biblioteca Leopoldo Nachbin do Instituto de Matemática da UFRJ: estudo de caso – Marília Cossich Ramos – Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)

Aumentando o alcance e a visibilidade de catálogos online e repositórios institucionais com a ajuda do Google Giuliano Ferreira – Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio)

Licenciamento de livros eletrônicos e o modelo de negócios PDA (Patron Driven Acquisition) – Liliana Giusti Serra, José Fernando Modesto da Silva – Universidade de São Paulo (USP)

Usando o blog para promover serviços na biblioteca universitária – Patrícia Silva – Universidade Federal da Paraíba, Alex Salustino Silva – Universidade Federal da Paraíba (UFPB)

A conversão de registros na implantação de repositórios institucionais: o caso do Repositório Institucional Unesp – Fabrício Silva Assumpção, Renata Eleuterio da Silva, Jaider Andrade Ferreira , Flávia Maria Bastos – Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (Unesp)

No último dia de SNBU, sob o tema “Ética, conhecimento e cultura informacional: o papel das bibliotecas universitárias”, o Profº Drº Ladislau Dowbor (PUC-SP) proferiu a conferência “Ética da informação na era contemporânea: considerações sobre dilemas éticos e as questões profissionais” e também a Profª Drª Lídia Alvarenga (UFMG) proferiu uma conferência intitulada “Ética na sociedade e na Ciência da Informação”. Na sequência, houve a sessão de encerramento com o pronunciamento do presidente do XVIII SNBU, apresentação do relatório dos observadores nacional e internacional, apresentação do relatório geral do evento, escolha da sede do XIX (foi Manaus, em acirrada disputa com São Luís, já que houve empate e foi realizado um sorteio), apresentação cultural e coquetel de encerramento. A tarde, foram realizadas duas visitas técnicas: uma à Biblioteca Universitária e Central e outras à Biblioteca do Museu de História Natural, ambas da UFMG.

Até Manaus!

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