Resumo do webinar “Fomos e voltamos: nossos relatos de intercâmbio profissional”

No dia 21/3/16, a FEBAB deu início a uma série de webinars cujo primeiro foi “Fomos e voltamos: nossos relatos de intercâmbio profissional”.

Nesse dia, os bibliotecários Karyn Lehmkuhl e Carlos Gianetti contaram suas experiências nas bibliotecas da Universidade de Tecnológica de Munique, na Alemanha, e da Universidade de Toronto, no Canadá.

Carlos tem uma formação variada e atualmente é técnico de biblioteca no Instituto de Artes da UNICAMP. Iniciou falando que seu estágio foi realizado de novembro a dezembro de 2015 como bibliotecário visitante. A oportunidade surgiu por meio da publicação de um edital de mobilidade para funcionários da UNICAMP. A Universidade de Toronto, assim como muitas universidades públicas, não são totalmente financiadas pelo governo: a proporção é, em média, 45%  de financiamento público e 55% privado. No total, a Universidade de Toronto possui 3 campus. No que se refere ao sistema de bibliotecas, a universidade conta com 44 bibliotecas. Conhecidas como research libraries, não são locais apenas para empréstimo, mas também para reuniões, encontros e socialização. Carlos relatou, também, que o respeito à diversidade sexual e religiosa é absurda, e outro ponto destacado foi o fato de alunos de pós-graduação terem acesso irrestrito à biblioteca, exceto ao setor de obras raras. Além disso, é permitido entrar com mochilas e sacolas, pois parte-se do princípio de liberdade dos usuários e a consideração e respeito que possuem à coleção. A Library of Congress Subject Headings é adotada como classificação, sobretudo nas bibliotecas universitárias, enquanto que a Classificação Decimal de Dewey nas públicas. Carlos ainda destacou a comunicação organizacional, pois todos a equipe se comunica, independente do setor de atuação. Sobre o acervo, o empréstimo é ilimitado para graduação e pós-graduação, pois se considera que os usuários têm consciência de levar apenas os livros que realmente lerão. Sobre os alunos de pós-graduação, eles têm direito a uma mesa que podem colocar os livros e deixam lá parte do material usado na sua pesquisa; se outro usuário precisar do livro, ele é indicado no sistema com quem está emprestado e contata o usuário em questão.

O que também chamou a atenção de Carlos foi o fato da biblioteca estar sempre cheia e serem muito voltadas para os usuários, pois contemplam espaços para todas as gerações (X, Y, Z). As bibliotecas também possuem salas de leitura individuais e em grupo para reuniões, programar trabalhos, projetos, dentre outros. No que se refere aos serviços, o desenvolvimento de coleções é realizado por  bibliotecários especialistas, sendo cada um responsável pela compra e aquisição das línguas que dominam, o mesmo ocorrendo com a catalogação. A biblioteca recebe as listas dos livros que preferem em centenas de línguas e da compra até a disponibilização no acervo leva em torno de 3 meses. Outra curiosidade apontada por Carlos é que em épocas de provas as bibliotecas funcionam 24 horas com o cartão do usuário e foi destacado, também, o fato do wifi funcionar em toda a universidade, permitindo a mobilidade no campus. Sobre o atendimento ao usuário, Carlos destacou que enquanto que no Brasil encontra-se, em geral, a circulação e a referência, no Canadá há os information desks, no qual são providas respostas rápidas, como informações sobre o acervo, localização de materiais e recarga de cartão para uso das fotocopiadoras, e os reference desks, que contam com bibliotecários especialistas em cada área (liaisons). Isso acontece porque enquanto que no Brasil a formação do bibliotecário é generalista, no Canadá e nos Estados Unidos a graduação é em uma área do conhecimento e, posteriormente, estuda-se um mestrado em biblioteconomia para só então poder exercer a profissão de bibliotecário, e com ele pode-se marcar um horário de atendimento via chat, e-mail ou outra forma de contato disponibilizada pela biblioteca. Carlos também comentou outras curiosidades: a Robarts library, por exemplo, possui 5 milhões de livros e um anexo com obras raras; existem bibliotecas com impressoras 3D, pois considera-se que essa ferramenta fornece embasamento para o aprendizado e torna-o “tátil”; também foi mostrada uma foto de uma biblioteca que recebe a visita, a cada 2 semanas, de um cachorro utilizado para para descontrair e relaxar os estudantes, sobretudo em períodos de provas e projetos; a maioria das bibliotecas aproveita muito bem a luz natural, sendo que a biblioteca da Mizusawa possui sensores nas luzes internas que a fazem variar conforme a intensidade da natural, além de estantes deslizantes para economizar espaço e copiadoras com cartão, os quais são carregados pelos funcionários; há bibliotecas que também disponibilizam uma área privada em que é permitido o uso  de telefone celular.

Carlos relatou toda sua experiência no blog que criou para esse fim, com vários relatos e vídeos, vale a pena conferir: .

Na sequência, Karyn falou sobre sua experiência na apresentação intitulada “Programa de estudos IATUL: aprendizados, vivências e visitas”. Há 6 anos ela é bibliotecária na UFSC, formada na graduação e no mestrado em Ciência da Informação pela mesma universidade, e atualmente é responsável pelo setor de referência. A IATUL  (International Association of University Libraries) foi fundada eme 1955 na Alemanha e a biblioteca da UFSC foi a primeira biblioteca brasileira a tornar-se membro dessa associação, cujo diferencial é oferecer atividades que buscam fortalecer o networking entre bibliotecários, principalmente gestores, sendo que uma das atividades é o programa de estudos. Esse programa permite o intercâmbio de pelo menos 2 semanas, no qual o bibliotecário visitante conhece os serviços e atividades da biblioteca e, como contrapartida, implementar um novo serviço na instituição de origem do visitante. Karyn conheceu a biblioteca da Universidade Tecnológica de Munique, uma das melhores universidades alemãs, onde conheceu os serviços e, sobretudo, a iniciativa ERIC, que é um software que dá suporte à pesquisa e gerenciamento de dados de pesquisa. Karyn se candidatou ao programa no 2º semestre de 2014 e  embarcou em junho/julho de 2015, passando 4 semanas em Munique e uma em Hanover em uma conferência. A biblioteca visitada por Karyn foi fundada 1868, e embora o enfoque seja tecnológico, também possui outros assuntos nos acervo, como medicina e administração. Sobre sua rotina, Karyn contou que semanas antes de viajar recebeu um cronograma de atividades, muitas delas reuniões, e passou a maior parte do tempo na biblioteca do campus principal no centro de Munique. Como no Canadá, os bibliotecários também especialistas de área e a formação diferente é diferente e pode ocorrer de três formas: pelo ensino técnico mais um curso de  2 a 3 anos, mas que dá formação de aprendiz (mais ou menos equivalente a auxiliar de biblioteca, no Brasil); graduação (criado recentemente); bibliotecário de área (subject librarian): mestres ou doutores na área passam por um curso de 2 anos para se tornar bibliotecário. O subject librarian temEm geral, o atendimento é realizado por estudantes de biblioteconomia e ocupam o cargo de auxiliares, pois os bibliotecários não estão na linha de frente, como ocorria até pouco tempo atrás. Em seu primeiro dia de trabalho na Alemanha, Karyn reuniu-se com o diretor, que também é o atual presidente do IATUL, que esclareceu que ao retornar da viagem é necessário fazer relatório contendo feedback da implantação do serviço que conheceu na Alemanha, que no caso foi o software ERIC. Chamou a atenção de Karyn o fato de boa parte do acervo ser fechado e existir uma busca mecanizada de material, que torna o material rapidamente disponível para o usuário. Em relação ao organograma, Karyn comentou que a divisão ocorre por departamentos (circulação, serviços de informação (contém referência, referência virtual, capacitação presencial, web, via Moodle e até por WhatsApp), aquisição e catalogação, tecnologia da informação (responsável pelo repositório). Um ponto que chamou sua atenção foi a catalogação com um código em alemão, mas que em breve será substituída pelo RDA, porque há preocupação com internacionalização e, para isso, o RDA, Toolkit já foi traduzido para o alemão e deverá ser adotado em breve. Além disso, a biblioteca tem uma certificação ISO de qualidade, o que lhe possibilitou reestruturar os fluxos de trabalho e a documentação correspondente. Karyn ressaltou que tanto o ERIC, que é o software para acompanhar a pesquisa, do seu início até a geração dos dados, como o mediaTUM. o software utilizado para o repositório, foram desenvolvidos na própria universidade e atualmente são open source, suportando a pesquisa e o gerenciamento de dados de pesquisa, dados esses que são já são requisitados por agências de fomento europeias e alemãs, e no Brasil a FAPESP também já os solicita. Como a biblioteca está num patamar no qual já consegue oferecer o básico na gestão de dados científico,  a preocupação recai sobre quais outros serviços relevantes e atuais pode oferecer. Karyn também conheceu duas bibliotecárias suecas que fizeram um intercâmbio de uma semana e com as quais trocou experiências. Uma curiosidade sobre a Alemenha é que o país não tem biblioteca nacional, mas várias bibliotecas compõem a biblioteca nacional virtual, cada uma se responsabilizando por uma área do conhecimento e  um período. Em Hanover, Karyn participou apresentou um trabalho sobre a UFSC em um congresso. Por fim, ela comentou que as bibliotecas não possuem problemas com verba, mas existe preocupação com a contenção de gastos, sendo um exemplo disso a aquisição compartilhada de recursos informacionais.

Se você não pôde assistir, o vídeo da apresentação está disponível abaixo:

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