O Mundo Bibliotecário entrevistou Carla Sousa, criadora do curso Desvendando a Biblioterapia.
Confira!
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Quando e como foi o seu primeiro contato com a Biblioterapia?
Eu descobri a Biblioterapia durante o curso de Biblioteconomia na Universidade Federal de Sergipe. Certa vez, uma professora comentou por alto sobre esse termo e disse que a Biblioterapia também era uma área de atuação do bibliotecário. Aquilo me chamou a atenção. Eu sempre gostei mais do aspecto humano e social do curso. E naquele momento, por volta de 2012, eu comecei a pesquisar sobre o tema e descobri que na Universidade Federal de Santa Catarina tinha uma professora da Biblioteconomia que era referência na área de Biblioterapia, a professora Clarice Fortkamp Caldin. Li o livro e os artigos dela e decidi que queria estudar com ela na UFSC, em Florianópolis. No meio do caminho eu abandonei o curso de Biblioteconomia e entrei para o mestrado da UFSC, pois eu já tinha uma graduação em Jornalismo. E, então, de 2015 a 2017 eu fui orientanda da Clarice na Pós–graduação em Ciência da Informação da UFSC. E foi ali que eu me especializei e me apaixonei ainda mais pela temática.
Fale um pouco sobre sua experiência profissional.
Assim que eu terminei o mestrado eu decidi que queria me dedicar à Biblioterapia. Eu queria que mais pessoas conhecessem o poder terapêutico da literatura e pudessem utilizar esse recurso em benefício próprio e também das outras pessoas. E, então, eu comecei um trabalho de disseminar a temática pelas redes sociais, com a minha página Doses de Biblioterapia, no Facebook e Instagram, e comecei a promover encontros e oficinas presenciais principalmente em Florianópolis, onde eu resolvi morar com o fim do mestrado. Mas, eu percebi o crescente interesse das pessoas pela temática e muitos seguidores de outras cidades começaram a pedir que eu fizesse um curso online para que pudessem participar também. E foi o que fiz. No início de 2019 eu lancei o curso online Desvendando a Biblioterapia. Hoje a internet tem me proporcionado muitas alegrias, tanto pelo resultado do curso quanto pela interação das pessoas nas redes sociais. Mas, eu não abandonei nem nunca vou abandonar os encontros e oficinas presenciais. Eu prezo muito pelo contato físico, a presença, o olhar, o abraço. Além disso, continuo pesquisando e escrevendo artigos sobre o tema. E tenho recebido muitos convites para falar da Biblioterapia em eventos, em especial os eventos da Biblioteconomia, como o Painel de Biblioteconomia de Santa Catarina e o CBBD. E isso me deixa muito feliz porque foi na Biblioteconomia onde tudo começou. Apesar de não ter terminado a graduação na Biblio, eu me sinto uma ‘quase’ bibliotecária e fico muito à vontade no meio dos colegas da área.
Fonte: Carla Sousa
Por que você não se denomina ‘biblioterapeuta’?
Eu não me intitulo biblioterapeuta e sim consultora e aplicadora de Biblioterapia. E vou explicar por quê. O termo biblioterapeuta só deveria ser utilizado por pessoas que têm formação clínica e podem atuar como ‘terapeuta’ em atendimentos individualizados focando na queixa específica da pessoa e na recomendação de literatura como parte de um tratamento. Esse é um tipo de prática que está dentro da chamada Biblioterapia Clínica. O tipo de Biblioterapia que eu trabalho e que os bibliotecários podem trabalhar é a Biblioterapia de Desenvolvimento que está voltada para grupos de pessoas e não se caracteriza como tratamento. Sendo assim, o termo que eu adoto e que é defendido pela professora Clarice F. Caldin é ‘aplicador(a) de Biblioterapia’. O termo consultora de Biblioterapia, que eu também uso, surgiu porque além de ajudar as pessoas a entenderem o que é a Biblioterapia por meio das oficinas e do curso online, eu também ajudo a desenvolver e colocar em prática projetos na área da Biblioterapia, seja em escolas, bibliotecas, empresas, ou qualquer outro espaço.
Qual foi a sua melhor experiência trabalhando com a Biblioterapia?
Certa vez, logo no começo da minha caminhada com a Biblioterapia, eu fiz uma sessão aberta com um grupo pequeno onde tinha umas três idosas com mais de sessenta anos. Nesse dia eu li alguns contos clássicos, como o Patinho Feio. E geralmente, quando é possível, eu gosto de ler para as pessoas deitadas depois de conduzir uma prática de relaxamento. Após a leitura eu sempre peço para as pessoas irem despertando lentamente como se estivessem acordando de um sono profundo. E em seguida nós conversamos sobre a história. Nesse dia, assim que o grupo despertou, uma das senhoras relatou emocionada que aquela tinha sido a primeira vez que alguém lia uma história para ela. E o fato de ouvir a história deitada a levou de volta para a infância. Esse foi um momento marcante para mim, porque sei que para ela foi uma experiência inesquecível.
Qual é a sua atividade favorita dentro da prática biblioterapêutica?
Eu gosto de todas as etapas do processo. Mas, como é para escolher uma, eu diria que é o momento da interação com o grupo. Na Biblioterapia, é fundamental ter um momento de partilha após a história. É quando as pessoas se abrem para o outro e compartilham suas próprias histórias, os sentimentos e os pensamentos despertados pelo texto. Para mim, esse é um espaço muito rico. Pois, é o espaço para exercitarmos a escuta, a fala, o olho no olho e, acima de tudo, a empatia. A interação e a presença física têm um poder muito grande nos tempos de hoje em que estamos cada vez mais conectados virtualmente. Através da Biblioterapia é possível cultivar esses espaços de trocas presenciais que nos alimentam e fortalecem enquanto seres humanos.
Qual aspecto da biblioterapia você mais gosta?
Eu gosto muito do aspecto interdisciplinar da Biblioterapia tanto na teoria quanto na prática. Por exemplo, para entender a base conceitual nós recorremos a teóricos de diversas áreas como a Literatura, Psicologia, Educação, Filosofia, Antropologia, dentre outras. E isso é muito rico. Na prática, a Biblioterapia pode ser aplicada em diversos contextos, na escola, na biblioteca, no consultório, nas empresas, nos hospital, asilos, abrigos… Numa infinidade de espaços para públicos diversos. Cabe ao profissional adaptar a Biblioterapia para o seu contexto profissional, seja bibliotecário, professor, pedagogo, psicólogo, jornalista, enfermeiro…
Seus interesses e hobbies estão relacionados ao livro e à leitura? Ou você tem outros?
Eu diria que sim. E isso é muito legal. Porque quando estou lendo um livro eu encaro aquilo como trabalho, mas ao mesmo tempo é muito prazeroso. Eu adoro ler. E poder fazer disso parte do meu trabalho não tem preço. Então, muitas vezes não sinto que estou trabalhando. Mas, tenho outros hobbies sim. Eu adoro fazer trilha e estar em contato com a natureza. E morando em Florianópolis, que tem uma beleza natural privilegiada, eu aproveito muito minhas horas livres para fazer trilhas, ir à praia ou simplesmente contemplar o por do sol.
Se você pudesse voltar no tempo para quando começou, que conselho você ofereceria para você mesma?
Eu diria: Seja humilde e generosa. Pois, foi só depois que eu comecei nessa caminhada ao longo desses anos que fui aprendendo a ter essas duas qualidades. Aprendi na prática que quando eu ofereço o meu conhecimento para o outro nós enriquecemos juntos e contribuímos para um mundo mais saudável e feliz por meio da Biblioterapia.
Fale um pouco sobre o seu curso Desvendando a Biblioterapia: quem pode fazer o curso? O que você ensina? Como as pessoas podem comprá-lo?
O curso é basicamente teórico com videoaulas onde eu apresento a base conceitual da Biblioterapia, o histórico, os componentes biblioterapêuticos (catarse, identificação e introspecção), falo da relação da Literatura com a saúde e o desenvolvimento humano e trago o ebook ‘Breve manual de autoaplicação de Biblioterapia’ um material exclusivo que eu criei para o curso. Além disso, eu estou sempre alimentando o curso com aulas extras que eu gravo online e que conta com a participação dos alunos. A plataforma do curso é a Hotmart e é super simples de usar. Ao concluir 100% do curso o participante tem direito a certificado de 10h. Eu gosto de dizer que o curso Desvendando a Biblioterapia é um guia para quem quer entender o que é a Biblioterapia e o que caracteriza o potencial terapêutico da literatura. No curso eu levo o aluno a experimentar esse potencial e a refletir sobre esse papel da literatura. Nesse curso eu não apresento a parte prática da Biblioterapia, porque eu acredito que antes de partir para prática a pessoa deve entender a teoria que sustenta e que fundamenta aquela área de conhecimento. Com base nos relatos que eu recebo dos participantes posso dizer que o curso está sendo muito bem aceito e tem contribuído para que muitos profissionais comecem a olhar com outros olhos para a literatura, levando em conta a sua potência terapêutica. Qualquer pessoa pode fazer o curso, tanto quem já trabalha numa área específica, como os bibliotecários, quanto estudantes que querem fazer TCC sobre o tema ou, simplesmente, quem tem curiosidade de saber o que é a Biblioterapia. Quem tiver interesse pode parcelar o valor em até 12 vezes no cartão ou fazer o pagamento via boleto. Fonte: Carla Sousa
Boa noite. Meu nome é sol, o curso de biblioterapia e online? Quando será próximo? É qual é o investimento?
Olá, Sol.
Infelizmente o curso Desvendando a Biblioterapia foi descontinuado.
Obrigado pela visita!
Eduardo.