O acervo inclui os livros do autor brasileiro Paulo Coelho, que em 2011 saíram de circulação no Irã quando o regime cassou a licença da editora iraniana que detinha os direitos das obras.
Nas prateleiras da biblioteca Dawit.Isaak, estão exemplares de obras que são ou já foram censuradas ou queimadas em diferentes países, escritas por autores que enfrentaram a prisão, a censura ou o exílio — Foto: Divulgação
A nova Biblioteca Dawitt Isaak, especializada em livros censurados no mundo, foi inaugurada no complexo do Arquivo Geral da cidade de Malmö, no sul da Suécia. O nome é uma homenagem ao jornalista e autor Dawit Isaak, que desde 2001 é mantido preso sem julgamento na Eritréia por ter publicado críticas ao regime. Nascido no país africano, Isaak tem cidadania sueca e em 2003 foi homenageado com o Prêmio Liberdade de Expressão, concedido pela organização Repórteres Sem Fronteiras na Suécia.
Nas prateleiras da biblioteca, estão exemplares de obras que são ou já foram censuradas ou queimadas em diferentes países, escritas por autores que enfrentaram a prisão, a censura ou o exílio. O acervo reúne ainda músicas e peças teatrais proibidas, e ampla literatura sobre liberdade de expressão, censura e democracia.
“A censura não é algo que pertence à história. Autores ainda são ameaçados, ainda que as razões para tal variem de país para país em diferentes períodos. E ainda é difícil ter acesso a literatura contemporânea proibida ou censurada em diversos países. Nesse sentido, a biblioteca cumpre um importante papel”, disse à RFI Emelie Wieslander, diretora da biblioteca e chefe do departamento de Documentação e Liberdade de Expressão do Arquivo Geral de Malmö.
A nova biblioteca abriga tanto obras antigas como contemporâneas. Algumas são famosas pelo fato de seus autores terem sido ameaçados ou perseguidos – um exemplo é o livro Versos Satânicos, do anglo-indiano Salman Rushdie. A obra foi considerada ofensiva ao profeta Maomé por lideranças islâmicas, e em 1989 Rushdie foi condenado à morte pelo então líder religioso do Irã, o aiatolá Khomeini.
Outros exemplos são menos conhecidos: O Touro Ferdinando, do americano Munro Leaf, foi proibido pelo regime de Franco na Espanha por ter sido considerado “propaganda pacifista”, e na Alemanha de Adolf Hitler todos os exemplares foram queimados. “A cidade de Malmö tem forte tradição de trabalhar pela liberdade artística, e oferece por exemplo refúgio para autores e artistas em situação de risco”, destaca a diretora da biblioteca.
“Decidimos criar a Dawitt Isaak após percebermos que não existia nenhuma biblioteca pública que pudesse oferecer ao público literatura que é ou já foi proibida ou censurada. É importante que bibliotecas sejam espaços onde as pessoas possam formar suas próprias opiniões. E para isso, as pessoas precisam de fatos. Censurar livros e ideias não fortalece a democracia – muito pelo contrário”, acrescenta Emelie Wieslander.
Cada livro da biblioteca contém informações sobre por qual razão o livro foi censurado, quando e onde. A fim de expandir o acervo inicial de 1.600 itens, a Biblioteca Dawit Isaak busca indicações de obras, autores, músicos e artistas em geral que tenham sido banidos ou provocado controvérsias na América Latina e em diferentes regiões do mundo. Sugestões podem ser enviadas para o endereço de email dawitisaakbiblioteket@malmo.se
Banido no Irã, Paulo Coelho integra acervo
Entre as obras latino-americanas, O Alquimista e outros livros do brasileiro Paulo Coelho foram retirados das prateleiras do Irã em 2011, quando o regime baniu a editora Caravan Books, responsável pelas publicações. O Ministério da Cultura iraniano justificou a medida na época com a afirmação de que o diretor da editora, Arash Hejazi, era um “contrarrevolucionário fugitivo” – em 2009, o diretor havia sido filmado em um protesto contra os resultados das eleições presidenciais de junho daquele ano. O ministério afirmou, por outro lado, que os livros de Paulo Coelho poderiam ser publicados por outras editoras iranianas.