HISTÓRIA: Acervo de Adriano Branco, engenheiro chamado de ‘pai do trólebus’, será preservado na Biblioteca da Poli (USP)

Adriano Murgel Branco, em entrevista concedida ao Diário do Transporte em junho de 2017

Poucos anos antes de falecer, engenheiro que marcou a história do transporte público brasileiro lutou para preservar mais de 1700 livros e documentos que compunham sua biblioteca de trabalho. Após homenagem da Alesp em 2015, que criou sala com seu nome para preservar o acervo, tudo será doado agora para a Escola de Engenharia Politécnica da USP

ALEXANDRE PELEGI 

Um dos mais respeitados especialistas do transporte público no país e na América Latina, Adriano Murgel Branco viveu cercado de livros

Nascido em 15 de novembro de 1931, faleceu em 23 de dezembro de 2018, aos 87 anos, e teve uma vida dedicada a importantes instituições públicas desde os anos 1950.

À frente de projetos que inovaram a área de transportes e mobilidade urbana, teve como um dos exemplos de seu brilhantismo a atuação como diretor de Trólebus da CMTC – Cia Municipal de Transportes Coletivos de São Paulo, onde ficou responsável pela modernização e ampliação daquele sistema de transporte público.

Adriano foi um dos principais responsáveis pelo projeto Sistran, que revolucionou o sistema de transportes na capital paulista, o maior da América Latina já em 1978, quando o plano foi implantado. Além de um aumento significativo da rede de trólebus, previa integrações com outros modais e uma nova geração de ônibus elétricos.

Graças ao projeto, São Paulo receberia 1.280 trólebus novos e a rede seria ampliada em 280 km, que se juntariam aos 115 km já existentes na época.

O plano não foi plenamente colocado em prática por causa da falta de continuidade administrativa, um dos grandes males das administrações públicas brasileiras há décadas.

Não à toa, Adriano é considerado por muitos o “pai do trólebus” no país, pela sua persistência em implantar e expandir o uso desse modal na cidade e depois em algumas cidades brasileiras. Em evento realizado no Instituto de Engenharia em 2013, sob o título 2° Seminário Trólebus,a instituição reuniu grandes nomes do setor que trouxeram em pauta a importância deste transporte para a melhoria da mobilidade e do meio ambiente. Mais uma vez, o nome de Adriano foi lembrado por sua história de luta na implantação desse transporte e pela preservação de várias linhas em ação na capital.

Adriano Branco sempre defendeu subsídios e o financiamento público do setor de transportes, mesmo sendo operado por empresas privadas. Segundo o engenheiro, com base em sua experiência, é possível notar que os transportes trazem lucro para toda a sociedade por meio de benefícios sociais e econômicos, as chamadas externalidades, que não são repassados para o setor novamente.

BIBLIOTECA: UM RETRATO DE SUA HISTÓRA DE VIDA E CONHECIMENTO

Em 2015, já adoentado e afastado da vida pública, Adriano buscava preservar a memória construída por ele numa coleção de milhares de livros, planos e documentos da área de transportes que juntou ao longo de sua vida de estudioso e gestor público.

Sua preocupação era preservar esta memória que, como ele mesmo explicava, refletia de certa forma a própria história da construção do conhecimento sobre transporte público coletivo no país.

Por este motivo, sua intenção era doar o acervo completo a uma instituição pública aberta, que garantisse o livre acesso a esse rico acervo.

A única exigência que Adriano fazia era a de que o material não fosse desmembrado, separado em estantes ou prédios diferentes, dispersando o que ele considerava ser um conjunto uniforme que se confundia e ao mesmo demonstrava sua própria história de formação de um conhecimento ao longo de mais de 5 décadas.

Após algumas consultas, e graças a gestões de colegas de Adriano da Associação Nacional dos Transportes Públicos (ANTP) e do Instituto de Engenharia, além do empenho de seu sobrinho Marcelo Branco, ex-secretário municipal de Transportes de São Paulo, o então presidente da Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp), Fernando Capez, reservou um espaço no prédio da instituição para receber os livros e documentos, com livre acesso para pesquisas.

Como justa homenagem à sua contribuição à vida pública, a área recebeu seu nome, e foi inaugurada com sua presença e de vários amigos e companheiros de jornada.

ACERVO É ENCAMINHADO À POLI-USP

Na edição do Diário Oficial do Estado de São Paulo dessa quinta-feira, 29 de outubro de 2020, a Alesp comunicou que, atendendo a pedido formulado pela Divisão de Biblioteca da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (POLI-USP) em 12 de junho de 2019, está encaminhando para lá o conjunto do acervo Adriano Murgel Branco.

Composto por 1.700 obras, o motivo alegado pela Mesa Diretora era o de que tais livros eram considerados “inservíveis por se apresentarem ociosos e de constatada inexistência de utilidade aos frequentadores da Biblioteca da ALESP”.

As obras, de renomados autores brasileiros e internacionais, abordam temas essenciais para a gestão pública como o transporte, além de segurança rodoviária e habitação.

Curioso que uma Casa de Leis não tenha encontrado serventia para esse material.

Como infelizmente tem acontecido com frequência no país, os grandes homens públicos são esquecidos poucos meses após sua morte.

A expectativa que resta é que, agora na Universidade, o material acumulado por Adriano durante os anos em que se dedicou a prestar reconhecidos serviços ao transporte público no país sirva para formar novos gestores, administradores, técnicos e especialistas.

Disponível em: https://diariodotransporte.com.br/2020/11/01/acervo-de-adriano-branco-sai-da-alesp-para-a-biblioteca-da-poli-usp/. Acesso em: 2 nov. 2020.

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O site Diário do Transporte tem a notícia completa, além de uma entrevista com Adriano Branco e uma linha do tempo com todas as suas atividades.

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