Por Aldrin Jonathan
Exposição apresenta livro sonhado por Stéphane Mallarmé como a essência da literatura
Você gosta de ler? A leitura de um bom livro nos suscita o socrático “só sei que nada sei”, nos transportando para o universo das sensações. Um bom livro sempre nos deixa com aquele gostinho de quero mais, com aquela vontade de mergulhar no universo das palavras e se entregar a qualquer poesia em um lugar qualquer. Já imaginou um livro flexível, e aparentemente comum, que contivesse a totalidade das relações existentes entre todas as coisas e que fosse a essência de toda a literatura?
Sonhado pelo poeta francês Stéphane Mallarmé, no século 19, Le Livre seria esse projeto utópico que permitiria infinitas possibilidades de leitura, sendo a soma de todos os livros, a experiência da plenitude. O ideal de Mallarmé é o ponto de partida da exposição “Mallarmé, Le Livre” do artista austríaco Klaus Scherübel, que já teve seus trabalhos apresentados em inúmeros lugares do mundo, como Nova York, Berlim, Barcelona, Ottawa e agora chega ao Brasil no Centro Universitário Maria Antonia, inaugurando a programação de atividades da Biblioteca Gilda de Mello e Souza.
Dispondo de vídeo, fotografias e outros objetos, com base em uma série de declarações e anotações de Mallarmé, como as que especificam as dimensões e outros aspectos do livro ideal, a exposição pretende tornar real a contradição do projeto, impossível em sua materialização como um livro, mas plenamente realizável no trabalho conceitual de Scherübel, que produziu uma capa para o livro com as dimensões especificadas pelo poeta francês.
Considerado um dos pilares da arte de vanguarda do século 20, como Cubismo e Surrealismo, Mallarmé serviu de referência para artistas como Pablo Picasso e Duchamp. Mallarmé imaginava publicar seu trabalho numa edição de 408 mil exemplares, o que para os padrões da época significava uma tiragem de best seller. Guiado pelo que hoje se define como interatividade, o projeto nunca progrediu além de sua concepção e de uma análise detalhada acerca das questões que envolviam sua publicação e apresentação.
Sala de apresentação da mostra em exposição já realizada
Seu projeto utópico dependeria do leitor para se realizar, já que não era prescrita uma determinada sequência de leitura. A ausência de linearidade do texto faria com que o leitor se colocasse também na função de coautor da obra. A exposição Klaus Scherübel conquista tal abertura, na medida em que age como editor da obra mítica e esquecida do poeta francês, que, embora nunca tenha sido materializada, se completa e se concretiza artisticamente na exposição de Scherübel, valendo-se dos modos convencionais de produção, distribuição e recepção de um livro atual.
O sonho de Mallarmé nunca será alcançado na figura de um livro, o que não se apresenta como um fracasso para o artista francês, visto que para ele essa materialização se faz por conta própria. A intervenção que a exposição realiza é uma tentativa de trabalhar com a ambiguidade entre a forma e o conceito suscitado por Mallarmé, produzindo algo como um livro que poderia ser reduzido a um anseio de nossa época, a busca pelo conhecimento.
Centro Universitário Maria Antonia
Exposição: Mallarmé, Le Livre
Visitação: de19 de fevereiro até 20 de abril
Funcionamento: de terça a sexta, das 10h às 21h
Endereço: rua Maria Antonia, 294, Consolação
fone: 3123-5200
Entrada franca
Disponível em: <http://espaber.uspnet.usp.br/espaber/?materia=livro-de-todas-as-coisas>. Acesso em: 6 fev. 2014.